☀️
Go back

T3#EP01: Raça, território e COVID-19: como a desigualdade afeta o acesso à saúde pública

77m 30s

T3#EP01: Raça, território e COVID-19: como a desigualdade afeta o acesso à saúde pública

No primeiro episódio da terceira temporada do Podcast Cidade é Cultura  a discussão é sobre  a relação de raça, classe, moradia e mobilidade,  e como os 4 fatores afetam o acesso ao serviço público em São Paulo.  No estado, os usuários do SUS, oriundos de territórios com as maiores concentrações de pessoas pretas e pardas, levam mais tempo para acessar equipamentos públicos essenciais nos cuidados de casos graves de covid-19. Para discutir sobre o tema trouxemos três ilustres convidados para tratar desse assunto, os pesquisadores Ca...

Transcription

10228 Words, 59592 Characters

Se essa rua fosse minha, eu fazia ela gritar. Começa agora mais um episódio do podcast Cidade é Cultura. Música Bom dia a todos, queria agradecer a vocês pela presença, especialmente nossos convidados. Estamos aqui hoje com o Caio Souza, o Uri Paz e a Thayla Bertolosi que vão falar pra gente da pesquisa que eles fizeram pela Afrocebrap, a relação entre desigualdades raciais, demobilidade e acesso aos serviços de saúde de alta complexidade em São Paulo. O Caio Souza é licenciado e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais. A Thayla Bertolosi, mestranda em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da Universidade de São Paulo e também graduada em Relações Internacionais pela mesma instituição. E o Uri Paz, graduado em Sociologia pela Universidade Federal Fluminense. Eu vou estar mediando a reunião de hoje junto com a Thay e o Jurandir e agora vou passar a palavra para os nossos convidados. Fiquem à vontade para acrescentar alguma coisa. Todos vocês fizeram e fazem coisas incríveis. Então, por favor, fiquem à vontade com a palavra. Olá, gente. Boa tarde. Boa tarde, galera do Núcleo. Boa tarde, caros ouvintes. Eu, Caio e Thayla, a gente decidiu separar essa apresentação em três partes. Então, eu começo dando um panorama geral do Afro, um panorama sobre esse projeto das desigualdades raciais e Covid. Logo depois vem o Caio e vem a Thayla. Nós somos do Afro SEBRAP, que é o Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do SEBRAP, que é o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Tem uma longa trajetória de pesquisa nas ciências sociais. O Afro foi criado em 4 de novembro de 2019, bem ali na encruzilhada antes da gente entrar nesse pandemônio. E um dos primeiros desafios que a gente teve com o Afro, que é um núcleo que tem como objetivo pensar as intersecções de raça com economia, com a sociedade, com direito, legitimidades, enfim. E o nosso primeiro desafio foi a Covid-19. Desde o início, nós que já temos um contato maior com essa trajetória de estudo sobre desigualdades raciais no Brasil, a gente já percebia, desde o início da pandemia aqui no Brasil, que os grupos raciais, pretos e pardos, pobres e periféricos seriam os mais afetados. Aqui no Rio de Janeiro, eu estou aqui no Rio, mas tivemos a primeira vítima por Covid-19, uma empregada doméstica. E isso já deixou muito claro como a Covid-19 não afetaria igualmente todos os grupos raciais e de classe. Para quem quiser saber mais sobre os informativos, a gente fez nove informativos no total. Esses informativos, eles passam... O primeiro deles, a gente fala sobre o que a pandemia encontra no Brasil, porque as desigualdades que a gente tem visto com a pandemia no Brasil hoje, elas não nascem com a Covid, né? Elas são intensificadas por conta da Covid-19 e por falta de políticas públicas que dessem conta de lidar com essas desigualdades sociais e raciais, né? E aí a gente tem outros informativos que passam sobre desigualdades educacionais, prisão, qual é a relação do SUS e principalmente das ACS, que são agentes comunitários de saúde que não foram utilizadas pelo SUS para tentar conter, pelo menos no início da pandemia, e conscientização de formas de prevenção. A gente passou também pelos temas dos quilombolas, como é que os quilombos estão lidando com a pandemia e com a falta de suporte do governo federal. Mercado de trabalho, como que essas desigualdades no mercado de trabalho afetam de sobremaneira o grupo de pretos e pardos. Então, o informativo que a gente compartilhou com vocês hoje, ele fala especificamente sobre essa desigualdade no acesso aos hospitais. No primeiro trimestre, assim, da pandemia aqui no Brasil, a gente viu que as pessoas estavam demorando muito para ir aos hospitais, e quando chegavam aos hospitais, elas já estavam com quadros muito graves de Covid e acabavam evoluindo a óbito. E aí a gente parou para pensar sobre esses dados. Um dos primeiros desafios, a gente passou mais de 4 meses antes de começar a lançar os informativos, porque nós temos um desafio muito grande em coletar dados no Brasil. Ou seja, a maior parte dos dados nacionais que a gente tem é baseado no IBGE, e o último censo foi em 2010. Então, tudo estava extremamente desatualizado. A cidade de São Paulo é uma das únicas, se não a única, que tem dados mais atualizados sobre desigualdades raciais e sobre o acesso a transporte público, que foi o dado que a gente utilizou nesse informativo. A gente tentou reproduzir isso no Rio de Janeiro, para vocês terem uma ideia, a segunda maior cidade do país, e a gente não conseguiu porque não tinha dados disponíveis sobre isso. Então, assim, é muito importante também ver como que o censo é base para a gente tentar entender a nossa desigualdade, e sem ele, a gente fica no escuro para entender em que estado nós estamos, né? E aí a gente identificou que as pessoas periféricas, e em sua maioria pretas e pardas, elas demoravam quase duas vezes mais para acessar os hospitais do que as pessoas que moram no centro, e consequentemente que são mais brancas na cidade de São Paulo. E aí a gente começa a pensar sobre como as desigualdades em saúde elas acabam se interseccionando com raça, porque nós temos uma cidade que ela é profundamente dividida a partir de raça. Eu aqui vou compartilhar com vocês um mapa, só quem está na reunião vai conseguir ver, mas quem estiver no podcast pode acessar o site da Nossa São Paulo. Nossa São Paulo é uma organização que produz vários mapas, e existe um mapa da desigualdade racial, mapa da desigualdade do ano de 2019. E aí eu estou mostrando aqui para a galera que está na reunião, para ver que a parte do centro expandido de São Paulo é uma parte que tem a menor proporção de população preta e parda na cidade de São Paulo, e as partes mais periféricas contam com a maior concentração de população preta e parda. Esse é um primeiro mapa. O segundo mapa que eu estou apresentando aqui é o da idade média ao morrer. É o mesmo mapa da cidade de São Paulo e tem uma correlação muito forte, porque os bairros que têm uma maioria de população preta e parda são os bairros que têm as menores taxas de idade média ao morrer. Cidade Tiradentes, por exemplo, tem uma idade média ao morrer de 57,3 anos, enquanto que Moema tem uma idade média de morrer de quase 80 anos. Então a gente está falando aqui, não só... Por que é que essas pessoas morrem mais cedo? Essas pessoas morrem mais cedo não é porque existe algo biológico que pessoas brancas têm mais saúde do que pessoas pretas e pardas, mas existe aí um racismo estrutural que está na saúde, que está na educação, que está no trabalho, que está na violência policial, que acaba fazendo com que essas taxas sejam tão desiguais assim em toda a cidade. E aí eu mostrei esses dois mapas, né, da idade média ao morrer e o mapa da concentração racial na cidade de São Paulo e aí reforçando. No centro expandido de São Paulo a gente tem uma maioria de população branca, nas periferias uma maioria de população preta e parda e uma relação muito forte entre idade média ao morrer e raça, em que os bairros mais periféricos, de maior população preta e parda, são os que morrem mais cedo. E aqui eu vou apresentar um mapa para vocês da mortalidade por covid-19, ou seja, óbitos para cada 10 mil habitantes aqui do lado esquerdo e do lado direito como tem sido a imunização com duas doses para covid-19 até o dia 17 de maio de 2021. Então esse dado não está muito atualizado, mas ele mostra como tem sido feita a vacinação no estado de São Paulo, na cidade de São Paulo. A mortalidade por covid-19, ela é muito mais intensa nas periferias da cidade e isso a gente já mostrou que um dos aspectos principais é a falta de acesso aos hospitais, que a gente aborda ali no informativo que a gente compartilhou com vocês. E quando a gente não tem uma política pública direcionada que considere as desigualdades raciais, a gente continua a reproduzir desigualdades. Por quê? Se aqui no primeiro mapa eu tô falando, o dado nos mostra, né, que em Moema é comum que a idade média morrer seja de 80 anos, se eu começo uma campanha de vacinação em que é estabelecida a idade de 80 anos, eu vou estar vacinando muito mais os moradores de Moema do que a cidade Tiradentes, que a idade média morrer é de 57 anos. Então, a gente precisaria pensar, e precisa ainda pensar, como é que a gente lida com essas desigualdades raciais do ponto de vista da política pública de vacinação. Porque se nós temos uma cidade que produz uma morte precoce de pessoas, né, de 57,3 anos, se eu começo uma campanha de vacinação com um teto em 80, a cidade Tiradentes vai demorar muito para começar a ser vacinada de maneira mais intensa. Porque a gente já sabe que é só com a vacinação em massa que a gente consegue a imunidade. Então, Moema tá criando uma imunidade muito antes do que a cidade Tiradentes. E isso se reflete também no mapa da imunização. A cidade Tiradentes aqui tá com uma taxa média de população vacinada entre 2,5% a 5%. Enquanto Moema tá com uma população vacinada de mais de 12%. E essas desigualdades afetam saúde, afetam vida, afetam longevidade, e a reprodução dessas desigualdades, né? Então, esses dados, eles estão disponíveis lá na nossa São Paulo, e também estão disponíveis na base do GeoSampa. E agora eu vou passar a palavra para o Caio, que ele vai abordar um pouco mais sobre as desigualdades raciais que já estavam ocorrendo na cidade de São Paulo, e que sustentam esse quadro que a gente tá vendo, né? Porque a Covid-19, como eu falei no início, ela não criou desigualdades, né? Ela intensificou desigualdades que já existiam na cidade de São Paulo. Aure, obrigado, valeu pela introdução. Eu acho que essa primeira parte, né, quando você coloca um pouco do que acontece hoje na vacinação, é uma repetição de várias coisas que já aconteciam na cidade de São Paulo, e dá pra, quando você observa algumas características, algumas informações sobre o território do município, a gente começa a entender por que as desigualdades, elas têm muita relação entre si, principalmente a nível de cidade, no nível espacial. Já pensando numa visão um pouco mais da sociologia, da formação da cidade, a cidade, ela precisa de uma série de infraestruturas pra suportar a nada natural, o nada natural adensamento da população. E essa infraestrutura, ela vai surgindo, como muitos de vocês já sabem, através da infraestrutura de transporte, de saneamento básico, de energia elétrica, coleta de resíduos, enfim. São diferentes características da vida urbana, que a gente vai chamar de variáveis, num ponto de vista puramente sociológico, mas que vão ajudar a entender o porquê que existem desigualdades diversas. E aí, antes de entrar pra falar um pouco da nossa pesquisa, eu queria trazer algumas informações, levantamentos que a gente fez internamente no Afro, pra poder entender um pouco da desigualdade em São Paulo. A ideia é que, quando a gente pega essas variáveis, que são as características do espaço urbano, da vida das pessoas, e aí eu tô pensando mais num ponto de vista que é tipicamente sociológico, que é o da unidade familiar, da unidade domiciliar. Então, tô falando mais sobre infraestrutura, sobre domicílio, sobre condições de vida, que historicamente tem sido onde a sociologia tem encontrado mais poder explicativo, onde a gente se debruça mais sobre a vida de uma pessoa na cidade. Esse primeiro mapa, ele foi feito por parte de uma pesquisa, de doutorado, de uma pesquisadora da FAO, que é a Kátia Canova, e ela cria, ela constrói um índice, que ela chama de índice de urbanidade e justiça espacial do município de São Paulo. É um tipo de exercício de construção de um indicador muito legal, que eu acho que vale a pena procurar depois. É uma síntese de diversas variáveis, diversas medições de desigualdades que você pode ter a nível de um morador da cidade. E é um índice muito complexo, eu acho que é um excelente exercício para entender como que você modela dados socioeconômicos e você coloca isso dentro da... representa isso visualmente e quantitativamente no espaço. Então, ela analisa questões como densidade populacional, uso misto do solo, oferta de emprego, valor do solo, o número de bens que é tombados em cada região, áreas que são planejadas, quais locais da cidade são mais propensos à formação de ilhas de calor, quais tem a melhor coleta de lixo, tem menos poluição, tem menos concentração de renda, mais escolaridade, o tipo de emprego dos moradores, tudo que vocês conseguem imaginar que faz parte da vida de uma pessoa no espaço urbano, todo aquele tipo de coisa que a gente não percebe, mas que ajuda muito na vida cotidiana, até coisas como acidentes de trânsito, iluminação pública e criminalidades foram usados nesse índice criado por ela. A ideia aqui é mostrar que, em síntese, quando você olha para a cidade de São Paulo, a região que hoje é tanto esse hipercentro, o início um pouco da Zona Leste de São Paulo, a Zona Oeste de São Paulo também, até a Vila Sônia e o inicio da Zona Sul, é uma região que acumula diversas vantagens, comparativamente às outras regiões da cidade, em todas as dimensões urbanísticas que têm importância para a vida cotidiana das pessoas que estão na cidade de São Paulo. Isso sintetiza muito o que, na nossa pesquisa, a gente observou apenas em uma dimensão, que é trazer essas desigualdades. Para a pandemia em si, algumas coisas que vão importar muito, que foram provocações para a gente nesse período, foram o primeiro mapa, que é esse que está ao próximo à direita, que partiu de uma provocação nossa de tentar entender com dados que existiam naquele momento. A gente está falando de março, abril de 2020, quando nós começamos a pesquisar. A gente tentou fazer um levantamento para ver se existia algum dado que desse hipóteses para que a gente fundamentasse a nossa análise, o nosso interesse de investigação. A gente encontrou algumas coisas interessantes, que naquela época... É engraçado que hoje em dia a gente toma isso muito como dado. Porque todo dia, se você abre um podcast, ou se você vai assistir o Fantástico, qualquer tipo de informativo mais jornalístico, hoje em dia você escuta muito facilmente, você encontra informações sobre saneamento básico, sobre renda, como a pobreza ou a não riqueza colocam as pessoas mais em risco. Mas na época que a gente estava falando disso, existia um mito do COVID como a grande doença democrática. É o vírus que pega todo mundo, é o vírus que não vê cor, é o vírus que não vê classe. E nós, já com essa visão um pouco mais sociológica, a gente começou a pensar. Melhor não. Acho que a gente pode ver isso, talvez, conhecendo também outros momentos onde a sociologia estudou questões relativas à doença, a epidemias. No próprio Brasil, a gente tem o caso de algumas doenças que afetam mais certos grupos socioeconômicos. Então a gente pensou nessa provocação e falou, vamos tentar ir na contramão, ir contra a maré aqui, para ver se a gente acha alguma coisa interessante. E aí a gente começou a observar, com os dados da pesquisa Origem e Destino, os dados mais recentes que tinham ali sobre condições de vida da população, a gente achou, por exemplo, que existe uma relação clara entre adensamento domiciliar, que é mais ou menos o número de moradores por cômodo dentro de cada casa, e também por domicílio, e a relação disso com a renda. Então a gente começou a observar domicílios que eram mais adensados, que tinham mais pessoas, 4, 5, 6, o que muitas vezes vai significar mais de uma geração dentro da mesma casa, uma avó, um tio, um sobrinho, alguma pessoa ali. Essas casas estavam muito mais presentes nas regiões periféricas de São Paulo, e aqui por periféricas eu falo no sentido mesmo de distantes do centro. E esse adensamento tinha uma relação inversa com duas variáveis que são importantes também pensando na pandemia. Então vamos pensar no que a gente já viu acontecer, que tipo de coisa ajudou muito as pessoas durante a pandemia. Recursos, então a disponibilidade de renda para poder se proteger, para poder adquirir equipamentos, para poder ter acesso a hospitais que porventura fossem pagos, e também o acesso a saneamento básico, e depois a gente vai falar também do transporte, mas foram coisas que ajudaram muito nisso. E aí os outros dois mapas, eles ajudaram a corroborar um pouco essa ideia que a gente já está tendo. Então à esquerda a gente tem um mapa onde a gente converteu uma escala socioeconômica, a gente fez uma pontuação socioeconômica baseado no critério Brasil, que é um indicador de condições de vida socioeconômica pensando em aquisição de bens, de moradia, de propriedade de imóveis, enfim, é um questionário extenso baseado na PNAD, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, onde você calcula mais ou menos ali qual é a qualidade socioeconômica da família. E aí a gente converteu isso para uma pontuação numérica e jogamos isso contra o território da cidade de São Paulo, e mais uma vez essas mesmas regiões que têm essa vantagem do ponto de vista familiar, de densidade, pessoas por cômodo, pessoas por metro quadrado, são essas regiões que são regiões centrais, pegando o centro, a zona oeste, chegando nas regiões que são cortadas pela marginal e um pouquinho da zona leste e um pouquinho da zona sul também, que são os bairros mais centrais dessas regiões da cidade. Por coincidência, as regiões que estão mais distantes desse núcleo que acumula vantagens são as regiões que têm menos acesso a saneamento básico, que têm menos acesso a uma coleta de lixo de qualidade e várias variáveis que existem nos bancos de dados públicos da cidade de São Paulo vão ajudar a entender um pouco desse quadro de desigualdade. Pensando mais especificamente na nossa pesquisa, e aí eu já vou entrar um pouco no porquê que isso importou para a gente, e aí a gente tem que lembrar que a gente estava numa época onde ainda não se via e não se pensava nessa possibilidade de que a COVID teria alguma coisa com raça e com classe. Então a gente tem que fazer esse exercício de se transportar um pouco para como foram as primeiras semanas da COVID-19 no Brasil e pensar um pouco no espírito social a respeito da pandemia. Quando a gente foi olhar para a nossa pesquisa, então vou primeiro fazer uma síntese do que a gente observou e que eu já trouxe, mas só lembrar para vocês. O nosso estudo encontrou que pessoas de territórios com mais pessoas... brancas na cidade, que por coincidência ou não, são também os territórios mais pobres com menor renda, demoram muito mais tempo para acessar equipamentos de média, principalmente de alta complexidade, que são centrais nos cuidados de casos graves de Covid-19. Então eu falo de grandes hospitais, de hospitais de campanha, de espaços que têm capacidade de fazer uma triagem rápida de pessoas numa situação onde elas estão numa crise muito forte, que é muito diferente de uma OBS, que seria uma unidade primária, e muito diferente de um laboratório, de um centro clínico que está ali numa unidade de média complexidade. Então a gente focou muito em alta complexidade, porque são os equipamentos aos quais as pessoas procuram quando elas estão num quadro muito grave, um quadro de urgência, e também os equipamentos que concentram mais desigualdade. E aí, quais são esses espaços não brancos, né, onde as pessoas... E aqui não brancos, eu falo dos espaços onde existem bairros, onde a maioria dos moradores são, seja pretos, pardos ou indígenas, mas grande parte são pretos e pardos, e aí a gente não incluiu pessoas asiáticas na análise, tanto porque não havia uma proporção muito grande de zonas onde você tinha uma proeminência muito grande de pessoas asiáticas, e que dentro do ponto de vista da desigualdade sócio-econômica, e aqui eu falo exclusivamente numa perspectiva mais de renda e de acesso a recursos, essas pessoas que moram nos bairros e nas regiões onde há mais asiáticos, elas também estão aproveitando de algumas dessas vantagens que as pessoas brancas têm, pela forma como o racismo é construído no Brasil, né, que é um assunto que está mais ligado ao histórico da escravidão no país, a forma como as pessoas afrodescendentes são lidas e os acessos que elas não tiveram à ascensão sócio-econômica, que outros grupos de não-europeus tiveram, como foi o caso dos asiáticos e dos árabes em São Paulo. E aí, quais são esses pontos, então? Eu falo das porções mais extremas da Zona Leste, da Zona Oeste também, aquele pedacinho bem extremo, quase chegando em Osasco, Itabuão, também a Zona Norte e a maior parte da Zona Sul de São Paulo, né. E essas regiões, o interessante ali é que o que caracteriza principalmente essa dificuldade do acesso que a gente vê é a integração mais deficiente à malha de transporte público, seja o transporte público do trem, seja através de ônibus, enfim, todo tipo de... pensando no transporte público enquanto o recurso básico que as pessoas têm para ter acesso a um serviço público na cidade, a falta de conexão a esse nível mais básico mesmo, né, porque não tem como a pessoa ir a pé até um equipamento de um hospital de alta complexidade e também a gente não pode partir do pressuposto, né, que todo mundo tem acesso a carro ou a moto para conseguir se deslocar, então para entender um pouco marginalmente, assim, a ideia de um direito básico, né, então onde você consegue chegar com o transporte público? Claramente a média de tempo de acesso das pessoas que moram nesses territórios que a gente chama de territórios pouco integrados, ela foi muito mais alta, foi mais ou menos 70 minutos aí, enquanto nas regiões que têm acesso mais facilitado isso chegou, acho que foi a 25 minutos, algo por aí, né, o número que a gente colocou, depois eu vou dar uma conferida aqui, mas em síntese, né, a proporção de pessoas não brancas numa região da cidade, ela também significa uma renda menor do que outras regiões, então quanto menos pessoas brancas você tem numa certa região da cidade de São Paulo, menor vai ser a renda média dos trabalhadores e maior o tempo que essas pessoas que moram nessas regiões vai passar para, vai ter para chegar até um hospital de alta complexidade. E como que isso, o que que isso significa, né, para a ideia, o conceito, né, de acessibilidade espacial mais sociologicamente, pensando em raça também, é, olhando a gente num ponto de vista mais sociológico mesmo, mais socioeconômico, a acessibilidade espacial tem muitas definições, acessibilidade é um conceito muito amplo, né, mas a gente tem que entender que na cidade ela também é a relação entre oferta e demanda de um serviço, e aí você pode medir essa demanda por um serviço dessas formas, a distância média a um ponto, a razão entre pessoas por serviço, então, quantos moradores por médico, por professor, enfim, modelos de acesso que levam em consideração o raio ao redor, estimativas de densidade populacional, enfim, tem várias formas de você medir esse conceito, é um conceito muito mais intuitivo do que fixo, pelo menos aí pensando em desigualdade social, para a raça especificamente e para a acessibilidade de saúde, ela diz muito pra gente sobre a história urbana e esse histórico de distribuição dos recursos, recursos econômicos, recursos institucionais, oferta de emprego, enfim, tudo isso que cozinhou ali na história da cidade, na história urbana, a partir do crescimento e da expansão da cidade, dentro da cidade de São Paulo, à medida que ela cresce, que a população também aumenta, os recursos que se criam na cidade, recursos espaciais e econômicos, eles vão ser distribuídos de forma muito desigual ao longo da cidade. Que tipo de distribuição desigual a gente está falando? É só a gente olhar para um caso mais qualitativo, como que em muitas regiões da cidade, a urbanização foi tocada pelas mãos dos trabalhadores que moravam lá, de associações de moradores que foram responsáveis por praticamente construir suas próprias casas, lutar pelo asfaltamento, construir suas próprias redes de esgoto e só mais tarde elas serem cobertas pelo poder público. E isso também vai desencadear na demora para que uma região mais distante do centro da cidade, a demora que essa região tem para ter o mesmo nível de acessibilidade que o centro da cidade teve 20, 30 anos antes. Então sempre tem esse atraso na chegada do serviço, que ele acontece pela própria forma como a cidade vai excluindo e vai tirando as pessoas do centro, pelo fenômeno da desigualdade social. Essas privações que acontecem com os recursos vão ter efeitos muito duradouros sobre as pessoas e sobre as comunidades que estão. Com o tempo, o acúmulo dessas privações pode chegar num cenário onde no momento que você precise do equipamento público para resolver um problema, para resolver uma crise, ele não vai responder da melhor forma. Exatamente o que acontece no caso dos hospitais aqui. Não é que de repente você não tem mais hospital disponível na cidade para as pessoas, mas o próprio histórico, tanto da política de planejamento quanto dos interesses dos hospitais onde queriam ser construídos, as populações que eles queriam atender e os interesses econômicos de onde eles gostariam de se instalar, tudo isso vai se acumulando no tempo, onde chega uma situação na cidade que realmente fica insustentável que você tenha uma distribuição igualitária do acesso à saúde. Então, a desigualdade na acessibilidade espacial aqui na cidade de São Paulo, ela vai se traduzir nessa dialética, nessa briga entre a demanda, a presença do recurso ou a falta desse recurso que vai gerar resultados que é a desigualdade social, que é uma mortalidade maior de pessoas que moram em periferias, de pessoas negras, de pessoas com escolaridade mais baixa, com renda mais baixa que não têm acessos a oportunidades num momento onde a demanda pelo recurso urbano, onde a demanda pelo equipamento ela não consegue ser ofertada, não consegue ser cumprida pelo equipamento público, pelo histórico de formação da cidade, de priorização de um planejamento que visa centralizar os recursos, que visa dividir regiões de moradia de regiões de trabalho, regiões de saúde de regiões de bairro. Então, porque para certas regiões você coloca só uma UBS e aí quando você precisa de um leito de UTI, esse leito de UTI está a mais de uma hora de distância da casa das pessoas. Então, são resultados de demandas que não são encontradas que vão se traduzir no que a gente viu dentro da própria cidade de São Paulo. E aí, para mostrar para vocês alguns, só retomar um pouco alguns gráficos que a gente fez nessa pesquisa, eu vou mostrar minha tela para eu fechar aqui, como que aconteceu, como que isso se traduziu na nossa pesquisa. Então, eu trouxe, deixa eu ver aqui, tentar colocar os gráficos aqui para vocês darem uma olhada, que são os gráficos também que estão no nosso informativo. Mas eu queria trazer eles para a gente colocar de forma mais clara como que isso se traduziu nos nossos gráficos. E aí, gente, eu não entrei muito nos detalhes metodológicos, nos detalhes de quais métodos a gente usou para analisar, porque eu acho que é um detalhe muito técnico, mas enfim, a gente pode abrir para discussão depois. Mas antes de passar para a tela, eu queria só mostrar um pouco dos dados que a gente trouxe. Então, aqui a gente tem um mapa de raça do município de São Paulo. Essa visualização que está aqui na tela é uma técnica de visualização espacial que chama de tessalação. Como que ela funciona? Você pega dados dos distritos censitários, aqui no caso, mas pode ser qualquer unidade territorial, e você dissolve aquilo ali, ou você agrega em pequenos hexágonos e vão criar mais ou menos uma malha urbana, que é o que a gente chama no nosso estudo de superquarteirão. Esse tipo de técnica pode ser feita com qualquer dado, com qualquer tipo de análise, e a ideia é facilitar a visualização, porque na cidade de São Paulo, nas capitais, você tem muitos setores censitários, que são aquelas unidades de pesquisa do IBGE, onde acontece o censo, que correspondem mais ou menos à sua rua, mais alguns quarteirões em volta. Então, essa malha foi construída com uma base de dados que foi disponibilizada pelo IPEA no final de 2019, que foi o ano anterior à pandemia, e a gente fez uso dela para tentar colocar isso em perspectiva com a raça. Até então, essa análise não havia sido feita. E aqui vocês veem, no centro de São Paulo, como eu mostrei, a região onde tem menos pessoas por quarto, menos pessoas por quilômetro ou por metro quadrado, são as regiões onde tem mais pessoas brancas na cidade, e as regiões periféricas, que demoram mais tempo para ter acesso aos hospitais, que tem mais pessoas por domicílio, que tem menos acesso ao saneamento básico, a coleta de lixo, são as regiões onde a população branca é menos de 10%, de 20%, de 30%, que são esses extremos da cidade. Curiosamente, essa relação entre tempo de acesso de ônibus à atenção terciária, aos hospitais, ela tem, claro, existem muitas causalidades, mas você consegue ver bem visivelmente, quando você olha o gráfico e você divide a cidade, os bairros da cidade em níveis de renda, então os 10% mais ricos, 20% mais ricos, etc., essas regiões, quanto maior a renda da família, menor o tempo que se demora para chegar no hospital. Então, ter mais renda, morar numa região com mais recursos, também te permite chegar em 20 minutos no hospital, enquanto que os 90% bairros mais pobres da cidade vão demorar 65 minutos para chegar em um hospital terciário, em um equipamento que tenha UTI, enfim, que consiga fazer esse tratamento. A mesma coisa acontece olhando os bairros onde tem mais pessoas negras, então, bairros que têm, onde mais de 80% da população é negra, quarteirões onde mais de 80% é negro, você também demora muito mais tempo, isso vai passando aqui, onde os bairros que têm 91% da população é branca demoram 20 minutos para chegar no hospital, os bairros que têm 45% de população branca demoram 44 minutos para chegar de ônibus no hospital, e curiosamente também são os 10% mais pobres da cidade. Então, essas três variáveis, ao menos a nível do nosso estudo, elas se conjugam e se traduzem nessa técnica que a gente fez para analisar a desigualdade, que é uma análise onde a gente agrupa todos esses bairros, esses quarteirões que fazem uso, que têm acesso rápido a um hospital com UTI, que é uma região que no mapa, que está no nosso texto, está de verde, claro, que são regiões que estão muito bem integradas à malha de transporte público, enquanto regiões que têm altíssimo deslocamento até um hospital, são regiões mais longínquas, que estão pouquíssimo integradas, e vocês conseguem ver onde estão as linhas de trem da CPTM, onde estão as linhas do metrô de São Paulo, que isso auxilia muito a política de transporte, ela ajudaria muito no cenário que a gente infelizmente acabou encontrando, que não foi resolvido, que foi o que a gente viu nos mapas que o Uri mostrou, e no próprio processo de tentativa de solucionar essa crise que foi durante a pandemia. Curiosamente, essas regiões que estão pouco integradas ao transporte público, são as regiões onde há mais pessoas que usam transporte público, que dependem dele, seja para ir trabalhar, seja para estudar, seja para ter acesso a serviços públicos. Então, um outro mapa que tem também, que a gente coloca, esses bairros mais longínquos, os distritos mais distantes de São Paulo, que têm menos acesso a hospitais, mas também é onde as pessoas mais precisam do transporte público para chegar a eles. Então, a gente se vê diante de um cenário onde a desigualdade está evidente, está clara, e quais políticas públicas a gente precisa para lidar com isso, que tipo de trabalho pode ser feito ou não foi feito para mitigar isso. E aí eu vou passar a bola para a Taylor, ela vai contar um pouco sobre a visão das políticas públicas sobre esse fenômeno. Então, obrigado aí, gente, pelo tempo. Muito obrigada, Caio. Eu acho, na verdade, que esses dados apresentados pelo Caio, eles causam um certo arrepio. Não sei vocês, mas eu sinto isso, porque é a realidade como ela é, e é a desigualdade como ela é em todas as esferas, e é isso que causa realmente arrepio. E acho que se vocês sentiram isso também, é isso, a gente tem que continuar se juntando para tentar reverter isso, para tentar mudar isso. Então, agradeço o convite. Eu vou começar, eu vou falar um pouquinho sobre não só as políticas públicas, mas também as ações sociais, o que a gente chamou aqui na nossa organização de ações sociais, e eu vou começar até por isso, porque são aquelas ações que não necessariamente foram políticas públicas, mas, enfim, ações de líderes comunitários, de filantropia, mas de ajuda e de apoio entre as próprias comunidades. E aí, eu queria começar dizendo que a gente teve essa dificuldade de coleta de dados, quante, e a gente partiu também para uma tentativa de buscar dados qualitativos, para tentar até ajudar a entender esse fenômeno. E nisso a gente pensou em um monitoramento de mídia, um clipping. A gente traz um capítulo final de uma espécie de panorama midiático, do que saiu na mídia, em todos os nossos informativos, isso inclui o informativo sobre mobilidade. E a gente tem também o último informativo, o número 9, que lá a gente relata exatamente todos os aspectos mais técnicos, a metodologia, quais foram os portais de notícias que a gente usou, o que a gente coletou além de notícias, a categorização, a codificação dos temas e por aí vai. Além das notícias, a gente teve os webinários, inclusive a maioria dentre os que a gente conseguiu coletar de instituições públicas, de pesquisa ou não, boletins, notas técnicas e por aí vai. Outcasts, alguns também. E aí o que acontece? Aconteceu realmente o que o Caio comentou e o Uri também, em um certo momento. No início veio essa narrativa, inclusive nesses jornais que a gente analisou, nos artigos que a gente coletou, que no início o vírus realmente não vê cor, não vê classe, o vírus democrático. A gente chama nesses informativos, inclusive, dessa espécie de argumentação, esse argumento de que o vírus seria democrático. E que, na verdade, isso foi mudando bem aos pouquinhos. A gente consegue analisar pela data das publicações que isso foi mudando aos poucos. E que de democrático foi passando a, enfim, universal, independente de renda e de classe e de cor. Isso foi começando a mudar. Poxa, realmente as periferias têm sofrido mais, realmente a população preta e pálida tem sofrido mais. Coisas que o movimento negro, que as organizações negras, que os pesquisadores já vinham apontando desde o começo, desde até antes da pandemia chegar no Brasil. Então, isso foi mudando, mas realmente foi mudando bem lentamente e outros temas começaram a ser mais frequentes. Gênero e mercado de trabalho também começaram a aparecer lá para o meio de 2020, já perto do final. E aí, periferias e solidariedade, digamos assim, foi uma categoria que a gente criou para poder entender quais eram as notícias sobre esse tema. E aí a gente teve, inclusive, como dizer quais foram os mais e os menos repercutidos dentre os que a gente conseguiu analisar. E periferias e solidariedade foi um dos que menos aconteceram. A gente tem menos ocorrências, incluindo educação em população carcerária também. E aí o que acontece? A gente teve sim um apoio de... Falando primeiramente sobre as ações sociais, a gente teve sim um apoio de instituições... publicações filantrópicas de investimento social privado, a gente tem publicações da revista Cláudia, do próprio GIF, do UOL, enfim, falando sobre isso, mas a gente teve também uma publicação muito interessante do Observatório do Terceiro Setor, que surgiu também, enfim, foi republicada em outros portais, também esteve presente na Agência Brasil, sobre um estudo que foi feito, inclusive com entrevistas, um levantamento de 3 mil moradores entrevistados em 239 favelas em todo o país, que apontou que 49% dos brasileiros realizam algum tipo de doação, mas entre os moradores de favelas, 63% doaram nesse mesmo período da pandemia de Covid-19, e essa doação, ela foi realizada, na verdade, pelo Data Favela, né, e a gente também identificou que, não a partir dessa mesma pesquisa, mas a partir do nosso monitoramento, que em geral essas doações eram cestas básicas, kits de higiene, equipamentos de proteção individual e também outras ações que não necessariamente envolviam a entrega de algum produto, mas o levantamento de projetos sociais para geração de renda, promoção de outros auxílios provisórios que algumas periferias implementavam, alguns líderes comunitários implementavam para ajudar algumas famílias, entregas de kits escolares e livros pelos próprios moradores e algumas iniciativas de lideranças comunitárias e da própria CUFA, de tentar promover a internet. Mas mesmo assim, eu faço um parênteses, assim, bem grande até, mas que eu acho que é bem importante, que quando a gente fala de internet, que é um ponto muito sensível para mim, porque meio que é o meu objeto de estudo, trabalhar na internet é diferente também de usar a internet para trabalhar fora, né, então a gente também não pode esquecer que temos entregadores de aplicativos, né, temos aí pessoas que continuam expostas, pessoas inclusive, em geral, de uma classe X, né, de classe X, e que em geral acabam tendo essa exposição porque trabalham a partir da internet, mas não estão em home office, né, então a qualidade dessa internet que é recebida também, se é 3G, se é Wi-Fi, se o sinal é bom, se não é, tudo isso pode ser questionado, mas de qualquer forma a gente teve, sim, algumas ações individuais e ações de líderes comunitários e da CUFA que ajudaram nesse momento, inclusive logo mais deve sair um boletim da rede de pesquisa solidária sobre isso, né, uma nova atualização, né, uma nova pesquisa, melhor dizendo, sobre esse tema. E aí, tudo isso a gente pode falar sobre ações sociais, então realmente o que a gente percebeu foi que as pessoas periféricas, em geral pretas e pardas, estavam se ajudando, isso também aconteceu em alguns casos, a gente conseguiu diferenciar, né, coletar de forma diferenciada casos de apoio entre indígenas, entre comunidades indígenas, e a gente entra também no tópico de políticas públicas. E o que que acontece? Especificamente para a população negra, eu vou ser bem, talvez até um pouco, como é que eu posso dizer, vou extrapolar até um pouco aqui, mas eu, durante todo esse período de análise, a gente não encontrou informações sobre isso, não quer dizer que elas não existam, pode ser que existam, mas eu cheguei até a tentar olhar outras bases de dados, como monitoramento, né, da Universidade de Oxford sobre isso, e realmente a gente não encontra política pública feita especificamente para a população negra em todo, eu não tô aqui fazendo, enfim, políticas públicas voltadas especificamente para a população quilombola, existem, né, existiram agora na pandemia, eu vou falar um pouco sobre isso, mas, por exemplo, um recorte racial de vacinação para pessoas negras, independente de classe, independente se são quilombolas ou não, não existiu, então, e não só o recorte racial da vacinação, como também o acesso aos hospitais, como também qualquer outra medida nesse sentido, então, caso alguém até saiba de uma iniciativa desse tipo, eu até peço que compartilhe comigo, porque realmente foi muito difícil, a gente tem, além do tópico, né, do capítulo sobre panorama midiático, nesses informativos, a gente tem um pequeno capítulo sobre políticas públicas e o que foi proposto e o que foi aprovado, e quando a gente chegou, por exemplo, em alguns informativos, sobre educação a gente via algumas coisas, sobre mercado de trabalho a gente via algumas, mas, em geral, o recorte racial quase não estava muito presente ali, ou ele estava ali subentendido, né, mas quando a gente chegou, por exemplo, em um informativo especificamente sobre acesso à saúde, sobre desigualdade de mortes, a gente realmente não conseguiu nem encontrar dados para isso, né, dados de políticas públicas para isso, mas, de qualquer forma, eu vou fazer um panorama bem rápido sobre alguns projetos, algumas tentativas de políticas públicas, especialmente para indígenas e quilombolas, porque foram as que a gente conseguiu identificar, né, e aí a gente tem vários projetos de lei, né, o Plano de Emergência 49 de 2020, sobre medidas emergenciais para povos indígenas isolados ou que tiveram contato recente, enfim, com outras pessoas, e a gente tem outros PLs que foram surgindo, mas que não necessariamente tiveram um grande encaminhamento. A gente teve, né, o Plano Emergencial para Enfrentamento à COVID-19 em territórios indígenas, dois PLs, inclusive, sobre isso, eu posso passar para não ficar um pouco desgastante, né, ficar falando o nome dos PLs, eu posso passar, deixar disponível para a equipe aqui, de repente, compartilhar em algum momento os links desses informativos que estão lá no Sebrap, né, no site do Sebrap, do Afro, a gente tem um informativo só sobre a mídia, como eu falei, e um sobre comunidades quilombolas, e neles a gente encontra a lista, né, de, enfim, espalhada por um contexto de PLs que foram tentativas de, enfim, mudar isso, né. A gente teve também o PL 2160 de 2020, que foi apresentado, inclusive, pela Frente Parlamentar Mista, né, em defesa das comunidades quilombolas, e que propôs a inclusão de medidas muito, muito urgentes de apoio a essas comunidades. E, claro, a gente teve um PL que eu acho que é até bem emblemático, porque o 1142 de 2020, porque ele coube, a relatoria dele coube a Joênia Wapichana, né, a primeira mulher indígena que, enfim, ocupou um lugar, né, no parlamento brasileiro. E ele destacou, inclusive, a importância de reconhecer que, entre o grupo de risco, estavam os grupos indígenas e quilombolas, né, que por diversos motivos, como ela fala, né, desde o modo de vida em comunidade, até a falta de saneamento, até o acesso precário ao sistema de saúde, que acaba favorecendo essa propagação do vírus, fazem com que essas comunidades, elas tenham realidades muito semelhantes quando se trata de, enfim, acesso à saúde e saneamento básico. Então, por isso mesmo, ela considera muito importante que ambas, né, ambas comunidades estejam consideradas no grupo de risco. E ela inclui, né, ela conclui, melhor dizendo, falando sobre as medidas que poderiam ser adotadas como enfrentamento, né. E ela diz também, claro, que a lei 13.979 de 2020 não atenderiam todas as necessidades desses povos, que em geral estão em ambientes rurais, né, não somente, a gente tem indígenas e quilombolas em contexto urbano, mas que em geral estão em contexto rural. E aí eu volto a dizer, né, a gente tem, teve, né, esse recorte étnico-racial, né, esse recorte mais étnico também na vacinação, mas, novamente, a gente não teve, na minha opinião e com base em o que eu tentei pesquisar até esse momento, uma política pública realmente voltada especificamente para a população negra, de uma forma bem específica mesmo, bem recortada. Mas a gente não pode ignorar, por exemplo, que o auxílio emergencial, nossa, o que que ele fez na vida de pessoas pretas e pardas desse país, né, o que que ele fez e o que que ele deixou de fazer, inclusive, né, depois do corte. Então, a gente também não pode desconsiderar que outras políticas foram implementadas e que por menos que elas não tivessem recorte racial explícito ali, elas ajudaram e muito a vida dessas pessoas, mas, mesmo assim, ainda falta, né, falta esse olhar com esse recorte e é isso. E, claro, volto a bater na tecla de que tudo o que aconteceu também, mesmo a vitória, digamos assim, né, para o recorte racial, para o recorte de quilombolas indígenas, melhor dizendo, né, para a vacinação, também foi uma vitória, foi uma conquista desses movimentos sociais, dessas organizações. Então, assim, é muito fácil a gente apontar, muitas vezes, para, enfim, determinado, determinada pessoa responsável pela aprovação, por exemplo, mas a gente não pode esquecer que foi isso, a gente bateu nessa tecla, a gente, como pesquisador, ativistas, né, enquanto ativistas, organizações, bateram nessa tecla todo ano para conseguir alguma coisa. E é isso, vamos continuar batendo nessa tecla para ter mais resultados, né. Obrigada, gente. Gente, a gente que agradece a exposição maravilhosa de vocês. Acho que agora a gente pode abrir para perguntas. Enquanto isso, acho que falar sobre indígena, esses tempos para trás, eu fiquei meio, estava estudando sobre desigualdade, e aí, o quanto a população indígena sofreu, na verdade, né, com os testes da, eu até esqueço a palavra que se usa quando fala de usar cloroquina e esses remédios que não sei o que, e que eles foram feitos, foram feitos testes, né, na população indígena, não sei se na quilombola também, mas eu tinha visto isso, e eu fiquei chocada na época, indignada. É bizarro, realmente. Nossa, eu fiquei puta. A palavra é essa mesmo, assim, é céu aberto. E não só agora, é um histórico que vem, assim, de muito tempo, tem histórias horríveis, assim, que eu acho que quem tiver estômago pode até procurar, mas os documentos da Comissão da Verdade, eles mostram que durante a ditadura militar existia uns laboratórios muito esquisitos, onde os militares introduziam coisas como a varíola, o sarampo, enfim, contaminavam águas e açudes em comunidades indígenas, né, claro, com o propósito não só de monitorar a reação deles a isso, mas de matá-los em massa, enfim, de zimar, uma coisa muito horrível, não é novidade, né, no Brasil, é muito triste, né, saber que até hoje existe isso. É completamente absurdo, assim, eu fui ler um livro quando eu descobri essa, descobri não, né, mas apareceu essa notícia, acho que era até no texto do Silvio Almeida, eu fui ver, eu achei um livro sobre diferentes povos indígenas que escreveram sobre as suas situações, como as suas tribos estavam vivendo com o Covid. É muito legal, depois eu passo aí, junto com os links que vocês quiserem que eu mande, eu mando esse também. E vou passar a pergunta aqui, Maria Eduarda, pode fazer sua pergunta. Queria agradecer muito vocês pela exposição, foi incrível, esclareceu e trouxe muitas reflexões que vão além, realmente, quando a Thayla estava pensando, teve vários momentos que eu fiquei arrepiada e quando ela colocou em palavras eu me identifiquei muito, foi exatamente isso. E falando sobre a minha dúvida, sobre a fala da Thayla, que você disse muito sobre como as próprias comunidades, as favelas se organizaram para poder se ajudar, além das iniciativas privadas e entre outras organizações, eu queria saber se, na concepção de vocês, tendo observado isso, se vocês acham que, e não seguindo aquilo que tanto falam, a pandemia vai nos ensinar muito, naquele sentido, bom, que muitos circularam aí como se isso fosse de uma forma positiva, mas se, do mesmo jeito que os quilombolas indígenas pressionaram para que medidas fossem tomadas, se dentro das favelas essa organização tende a se manter, se abre para novas iniciativas quando isso acabar, quando a gente conseguir vacinar todo mundo, queria saber a opinião de vocês. Então, eu acho que é muito complicado, porque a gente está dando, assim, realmente uma opinião, um certo tiro meio que no escuro, talvez, até porque isso está acontecendo ainda, e é sempre difícil de opinar quando ainda está acontecendo. Mas é isso, a gente fez isso, na verdade, o processo inteiro, é claro que com dados, não era somente uma opinião solta, sem fundamento, mas se eu pudesse opinar sem ter tanta certeza, eu diria que sim, essa organização, eu acho que ela tem sido muito presente até agora nessa nova análise sobre o acesso à internet, a gente tem conversado com, a gente no caso da Rede de Pesquisa Solidária, com lideranças comunitárias, eu acho que é interessante a gente ver essa mobilização e tudo mais, isso é muito, muito importante para tentar mudar um pouco a situação, mas mesmo assim, o que eu percebo, e enfim, de repente isso pode vir até a ser publicado, se todos chegarem à mesma conclusão, é que há também um esgotamento, sabe, é muito duro ter que resistir o tempo inteiro, e mesmo as pessoas nas periferias se ajudando, chega num ponto em que é até triste e frustrante para um líder comunitário, por exemplo, não conseguir ajudar, e o que a gente percebeu foi isso, sabe, que chegou num ponto em que ninguém aguenta mais tanto descaso, ninguém aguenta mais, mesmo tentando se juntar para resistir e tal, é difícil resistir todos os dias como foi feito desde sempre, e agora ainda mais, é muito desgastante, então, sim, eu concordo que pode vir a, muita coisa pode vir a melhorar com maior mobilização, mas ao mesmo tempo a gente precisa também dessa atenção para o cuidado mesmo, como que está a saúde, inclusive a saúde mental dessas pessoas que estão se mobilizando, mas que também têm feito isso desde sempre, sabe, então eu acho que, sim, muito pode ser feito, mas a gente não pode deixar tudo na mão da ação social e esquecer que políticas públicas também precisam ser implementadas, né. E Jurandir, agora você. Então, no final do informativo, vocês trazem algumas propostas a nível estadual, municipal, nacional e até internacional, vocês enxergam hoje alguma iniciativa em São Paulo para resolver esse problema de mobilidade e acesso à saúde? Essa é uma pergunta bem capciosa, né, porque é muito difícil, assim, o que a gente propõe é toda uma mudança estrutural mesmo, na forma como a gente enxerga a formulação de políticas públicas pelo Estado, né, então, assim, a gente chegar ao ponto, por exemplo, de perguntar raça, cor no SUS, a gente demorou muito, a gente precisou lutar muito para conseguir obter um dado, né, e aí, eu, particularmente, eu tô aqui no Rio, não tô em São Paulo, mas pelo que eu tenho acompanhado com o SEBRAP, que é em São Paulo, eu não vejo, assim, nenhum desenvolvimento de política pública que seja mais focado nisso, ou então mesmo com a construção de hospitais de alta complexidade mais próximo a esses lugares do centro, né, eu não sei como foi aí em São Paulo, mas aqui no Rio, aqueles hospitais emergenciais, né, que criavam hospitais de campanha, também estavam localizados nas zonas centrais da cidade, então, assim, meu Deus do céu, o que mais a gente vai precisar falar e apontar e construir estudos dizendo que não adianta você construir esse hospital de campanha no centro da cidade, você tem que colocar nas zonas periféricas onde não tem esses hospitais, né, então, essa é uma pergunta, assim, que mostra como o Estado mesmo, ele não quer produzir políticas públicas que mostrem essas desigualdades raciais, porque eu acredito também que tem a dimensão do, quando a gente reconhece a desigualdade racial, a gente entende que o Estado também é culpado pela própria reprodução delas, né, então, ninguém quer assumir a culpa, assim. É, isso... Eu concordo com o Uri também, eu vivi pouquíssimo no sentido, houve, teve alguns hospitais de campanha, mas a maioria deles ficou, mesmo quando estavam fora da região central, estavam muito próximos e, realmente, houve algumas iniciativas, né, teve a inauguração do Hospital de Parelheiros, alguns lugares receberam TIs, mas ainda durante a pandemia, as regiões que mais tiveram leitos por 100 mil habitantes estavam ali, concentradas nesses poucos espaços da região central de São Paulo e acho que o mesmo acontece hoje quando a gente vê os drive-thrus de vacinação, né, e a política de transporte público não mudou, não houve nada nesse sentido, então, eu, né, assim, observando como que isso se deu, né, morando em São Paulo, eu vi pouquíssima iniciativa nesse sentido, então, acho que a minha visão é essa. Querem? Boa tarde, pessoal, tudo bem? Eu queria fazer uma pergunta um pouco mais pessoal, mesmo no sentido de pesquisador. Como foi para vocês fazer a pesquisa e trabalhar com ela, vivendo, né, esse momento que é a pandemia, tanto enquanto pesquisadores, qual dificuldade que vocês enfrentaram, enquanto pessoas mesmo, porque eu acredito que, às vezes, bata uma revolta ou, assim, uma instabilidade, porque eu imagino que não tenha sido fácil trabalhar com isso no período em que acontece. Nossa, muito legal essa pergunta. Uau! É, eu acho que, assim, tanto eu, mas olhando também depoimentos de outros colegas, pessoal do núcleo, né, como um todo, e outras iniciativas de pesquisa também, né, que eu participei, foi muito pesado, assim, eu acho que no início teve aquela empolgação, né, de colocar um conhecimento em prática, enfim, de, finalmente, as pessoas estão interessadas em sociologia, em desigualdade, em questões raciais, né, teve, o pessoal surfou muito nessa onda, mas é um processo muito ruim no qual você se depara com informações que expõem, né, a realidade, e eu acho que a pesquisa sociológica também sempre traz isso, eu acho que na sociologia é muito difícil encontrar alguém, nas ciências sociais, muito difícil você encontrar alguém que não estuda um tópico que vai te fazer chegar ali numa sexta-feira e falar assim, meu Deus, que pesado, caramba, o mundo, né, enfim, é uma área do conhecimento que exige muito suporte emocional, mas foi muito ruim ver isso acontecendo ao vivo e produzir coisas e falar sobre, falar para pessoas, mas ao mesmo tempo ver se desdobrar aquilo que você já imaginou que ia acontecer e com tanta desigualdade quanto a gente viu, né, quando a gente começou a ver a questão da desproporcionalidade, tanto na mortalidade quanto na letalidade em pessoas negras, nos estados mais pobres do Brasil, aí já essa sensação começou a pegar muito, né, e aí chegou no fim do projeto, eu particularmente já estava exausto, assim, eu já não conseguia porque cada dimensão social que você olhava era uma desigualdade diferente que, enfim, tinha solução, né, mas o meu sentimento foi esse. Sessão de desabafo aqui, né, nossa, pergunta maravilhosa, eu acho que se já foi difícil para mim, enfim, enquanto pessoa branca e tal, né, eu fico pensando como, inclusive pesquisadores negros, inclusive meus colegas aqui, como não foi para eles, sabe, porque foi realmente muito desgastante e eu acho que o pior do trabalho foi precisar lidar com o clipping de notícias, porque no começo da pandemia, eu, para manter... e a sanidade mental, eu só ignorava as notícias, né? Claro, eu mantinha o isolamento e tudo mais, mas eu saía da sala quando a TV comentava qualquer coisa sobre Covid. Então, eu simplesmente me desligava e fazia isso para me manter um pouco melhor. E aí, quando eu comecei a precisar coletar isso todos os dias e ler isso todos os dias, e mais morte, mais desigualdade, eu também cheguei, no final desse projeto, muito exausta, assim, muito, muito exausta. Eu cheguei a comentar isso, perdi algumas várias sessões de terapia só para falar sobre isso. Então, eu fico pensando o quê que meus colegas aqui também não passaram, né? É uma ótima questão, assim. Eu acho que é até importante a gente começar a humanizar mais essas pesquisas e tal, principalmente quando nós somos essas pessoas que estão sendo tratadas nos gráficos, né? Quando eu falo de periferia de São Paulo, eu tô falando das minhas tias, eu tô falando dos meus primos que moram lá. Eu tô falando de pessoas que fazem parte do meu seio familiar e que estão expostas a essas desigualdades, inclusive eu, um usuário do SUS periférico, né? É muito pesado mesmo. Esse projeto começou em março, se eu não me engano, de 2020, bem no início da pandemia. E eu acho que quando chegou em junho, ou foi julho, eu pedi para sair. Eu não aguentei ficar até o final. Eu saí, eu acho que no terceiro, ou foi no quarto informativo. Aí, logo depois, a Taya entrou, o Hugo entrou, que são os outros pesquisadores. Porque, nesse mesmo tempo, eu estava pesquisando assassinatos de políticos no Rio de Janeiro. Então, assim, eu pesquisava mortes pela manhã de políticos, em milícia e violência política. E aí, chegava a tarde, estava vendo morte sobre Covid, né? Então, foi um momento muito tenso, assim. E eu ainda tendo que lidar com quarentena, né? Ainda não estava acostumado com isso. É... isolamento. Então, assim, é brabo mesmo, é brabo. É bem complicado, tem que estar com a terapia em dia, porque esses temas são bem espinhosos, assim. E é só comentar, né? Que, inclusive, essa questão da terapia, eu não posso nunca deixar de falar disso, porque também sou usuária muito, muito frequente do SUS, especialmente do CAPS. E posso dizer que é isso, sabe? Na pandemia, a gente fala, né? Tem que estar com a terapia em dia, e tem mesmo. E é muito difícil, se a gente começa a pensar, por exemplo, em quem está acessando esses serviços, né? E quais serviços, porque o CAPS, a gente sabe que tem uma maioria, realmente. Tem pessoas pretas e pardas que acessam, é muito maior do que, enfim, serviços privados, saúde mental, mas fico pensando nisso também, né? Quem que está tendo acesso a esse suporte emocional, a esse suporte psicológico, nesse momento, né? Também é importante falar sobre isso. Acho que mais nenhuma pergunta. Foi incrível. Acho que não tenho nem o que agradecer. Eu vi essa pesquisa sobre o assassinato de políticos. Por favor, mande alguma coisa sobre, porque eu fiquei triste lendo, eu fiquei pesado, sabe? Então, óculos, estamos com você. E acho que é isso. Duda, você quer falar? E agradecer muito vocês por essa exposição incrível. Foi maravilhoso, vocês são maravilhosos. Muito obrigada mesmo pelo tempo para falar para a gente. Se vocês quiserem deixar alguma palavrinha final, deixar a rede social de vocês, e fiquem à vontade também para mandar os links para a gente. Tenho certeza que o pessoal também está bem curioso. E mais uma vez, muito obrigada. Por nada, foi ótimo, gente. É o arroba Uri Paz. H-U-R-I, Uri Paz. Meu é arroba Tayla BB. T-H-A-Y-L-A BB. Gente, eu queria agradecer muito também pelo convite. Foi muito legal a conversa. Queria ter apresentado muito mais coisas aqui. Acho que, enfim, mas... Leiam o informativo, leiam todos os informativos do Afro. Vocês vão ver com muito mais detalhe as informações, inclusive os dados que a gente apresentou. A última coisa que eu queria mencionar, se a gente ir, que eu não tive a oportunidade de mostrar durante a apresentação, um dos dados que a gente coletou também durante, aqui, eu não sei se vocês conseguem ver bem com qualidade, foi uma junção de algum dos dados que a gente trouxe, onde a gente pegou isso lá em maio do ano passado, de 2020, onde sintetizava, juntava todos esses dados que a gente tinha coletado. Então, aqui tem mais algumas coisas a mais, que é as regiões onde mais pessoas conseguem chegar na emergência até 60 minutos, que acontece mais no centro de São Paulo mesmo e nos bairros ali ao redor. E também, que não deu para apresentar, mas o número médio de banheiros por domicílio, que foi muito importante durante a pandemia também, porque tentava-se pedir muito que as pessoas não tivessem contato até dentro de casa, principalmente se tivesse um caso de COVID. E a gente vê que nos bairros periféricos, você tinha ali, no máximo, um banheiro por casa, enquanto que nas regiões centrais e na Zona Oeste, você tem dois, três, quatro banheiros por casa. E eu queria só ressaltar isso mesmo, que ficou faltando para trás. E para fechar, eu tenho um problema, a rede social eu não tenho muitas, eu não tenho Instagram, mas eu tenho o Facebook, Caio Jardim Souza, Souza com S, no LinkedIn também é o mesmo nome. E o meu e-mail é caio.lujaso, é a obgmail.com. Então, eu tenho contato também, se vocês quiserem trocar ideias. E saber mais sobre os estudos. E é isso aí, vamos apoiar e divulgar a ciência brasileira, e a ciência social brasileira também. Então valeu, obrigado pela oportunidade, gente. Legendas pela comunidade Amara.org Legendas pela comunidade Amara.org Legendas pela comunidade Amara.org

Key Points:

  1. Apresentação dos participantes e tema da pesquisa sobre desigualdades raciais e acesso à saúde em São Paulo.
  2. Abordagem das desigualdades raciais intensificadas pela Covid-19, com foco nas periferias e grupos vulneráveis.
  3. Análise da desigualdade no acesso aos hospitais em São Paulo, destacando a demora e gravidade dos casos em áreas periféricas.

Summary:

O podcast "Cidade é Cultura" apresentou a pesquisa realizada pela Afrocebrap sobre as desigualdades raciais e acesso à saúde em São Paulo. Os participantes, Caio Souza, Thayla Bertolosi e Uri Paz, discutiram como a pandemia intensificou as disparidades existentes, com grupos pretos e pardos, pobres e periféricos sendo os mais afetados. A pesquisa revelou que esses grupos demoravam mais para acessar hospitais, resultando em casos mais graves e óbitos. A falta de dados atualizados no Brasil foi um desafio para a coleta de informações. Mapas ilustraram a concentração racial na cidade e a relação com a idade média ao morrer, evidenciando a desigualdade. A pesquisa apontou que áreas não brancas enfrentavam mais dificuldades no acesso a serviços de saúde de alta complexidade. A análise socioeconômica revelou a relação entre adensamento domiciliar, renda e acesso a recursos, destacando as disparidades que influenciaram o enfrentamento da pandemia.

FAQs

O Afro SEBRAP é o Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do SEBRAP, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, focado nas intersecções de raça com economia, sociedade, direito e legitimidades.

Um dos principais desafios foi a coleta de dados desatualizados no Brasil, com base no censo de 2010. Além disso, a falta de políticas públicas eficazes intensificou as desigualdades sociais e raciais.

Pessoas periféricas, em sua maioria pretas e pardas, demoravam quase duas vezes mais para acessar hospitais do que pessoas que moram no centro da cidade. Isso evidencia as interseções entre desigualdades em saúde e raça.

A pesquisa revelou que pessoas de territórios com mais brancos, que são também os mais pobres, demoravam mais para acessar equipamentos de saúde de alta complexidade, essenciais para casos graves de Covid-19.

A pandemia intensificou desigualdades já presentes na cidade, como o acesso desigual a serviços de saúde, saneamento básico e renda, evidenciando a relação entre raça, classe e acesso a recursos.

Chat with AI

Ask up to 5 questions based on this transcript.

No messages yet. Ask your first question about the episode.